quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rota histórica do charque em Icó e Ceará será retratada em filme


Mostrar sobre a importância das charqueadas para a economia cearense em pleno crescimento e apogeu das entradas de gado na Província do Siará.

Com este cenário, o documentário "Charqueadas: ensaio à história das rotas e fábricas de carnes do Ceará", do jornalista Roberto Bomfim, foi destaque no caderno Regional, do Diário do Nordeste deste domingo (16).

O filme reatrata o caminho das rotas da carne de charque pelo Ceará, que teve em Icó uma de suas principais paragens e rebanho bovino para a economia, servindo o próprio Ceará e Estados vizinhos, com estradas presentes no município para diversas regiões.

As gravações tiveram início nesta sexta-feira (14) e, no sábado (15), o município icoense recebeu a equipe de 22 pessoas, que estiveram concentradas na antiga Casa de Câmara e Cadeia, refazendo a caminhada, que segue até Aracati, passando pelos Rios Salgado e Jaguaribe. Confira, abaixo, a matéria completa do Jornal:

Documentário "Charqueadas: ensaio à história das rotas e fábricas de carnes do Ceará" é filmado em Icó

Fortaleza. O boi como colonizador do sertão. Animal criado solto na Caatinga permitiu a incursão de populações sertão adentro, que se instalariam próximas aos rios, principal referência num ambiente desconhecido e sujeito a estiagens.

No século XVIII, uma técnica de salga e secagem da carne e do couro do boi permitiu que a capitania do Ceará desenvolvesse sua primeira atividade econômica de relevo: as oficinas de charque.

A trajetória econômica e social das charqueadas, que forjou no Ceará o que Capistrano de Abreu chamaria de "civilização do couro", é o tema do documentário "Charqueadas: ensaio à história das rotas e fábricas de carnes do Ceará", do jornalista Roberto Bomfim. A equipe de 22 pessoas segue para Icó, a fim de refazer uma das principais rotas do charque, seguindo a rota dos Rios Salgado e Jaguaribe.

Roteiro - Após pesquisar obras históricas que tratassem do tema, Roberto Bomfim gravou depoimentos junto a nomes como Valdelice Girão, Francisco Pinheiro (atual titular da Secretaria da Cultura), Juarez Leitão, entre outros. As filmagens foram iniciadas na última sexta e devem se estender pelos próximos 15 dias.

"Queremos sentir como era a vida daqueles vaqueiros. Por isso faremos parte do trajeto em cavalos. Vamos dormir em barracas nas fazendas e seguir caminho nas estradas abertas pelos vaqueiros do século XVIII", afirma o documentarista.

O ponto final das gravações é o encontro do Rio Jaguaribe com o mar. Era na Vila de Santa Cruz de Aracati que funcionava o principal porto, de onde o charque seguia para Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. O couro era exportado para a Europa.

A produção tem orçamento de R$ 160 mil, financiada pelo Edital Mecenas do Ceará, da Secult, e com patrocínio da Coelce. A ideia é fazer um vídeo-documentário de 50 minutos, a ser lançado em junho e exibido nas cidades por onde a expedição passou. O jornalista também pretende publicar, no segundo semestre, um diário de bordo.

Identidade - Pelo caminho, a equipe de filmagem também vai em busca de vaqueiros, ribeirinhos, comerciantes e memorialistas locais. Os depoimentos desses personagens servirão para compor o impacto das charqueadas no cotidiano, na economia, na relação com o ambiente e na cultura dos habitantes do interior cearense.

"Uma coisa que eu sempre busco em meus trabalhos é evidenciar um momento específico da história do Ceará. E faço isso para que os cearenses possam conhecer o Estado, porque infelizmente essa história não é contada, está se perdendo. O que eu quero é tentar mostrar esse Ceará que existiu e cresceu a partir dessa civilização do gado", ressalta Roberto Bomfim.

O charque (carne do ceará) era exportada para Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro e Bahia

HISTÓRICO Auge e declínio das oficinas

Fortaleza. Ela ferve nos tachos de feijão da senzala e da casa-grande. Do caldo do cozido se faz o pirão com farinha, que dá força e sustância ao tropeiro e ao vaqueiro. Num tempo de poucos gêneros de fonte proteica, a carne seca do Siará Grande tornou-se uma das bases da dieta na Colônia. Um legado de saberes e sabores que permanece até os nossos dias.

Não existe um consenso sobre quem teria trazido a técnica da charqueada ou se ela foi desenvolvida na própria capitania. O pesquisador Geraldo Nobre, no livro "As Oficinas das Carnes do Ceará" (1977), levanta a hipótese de a charqueada ter sido trazida pelos descendentes do holandês Joris Garstman, que comandava o forte dos Reis Magos (RN). Eles teriam ocupado a ribeira do Jaguaribe e de lá espalhado a técnica.

O fato é que as oficinas aqui encontraram um ambiente propício. O vento constante, a baixa umidade do ar e o acesso a fontes salinas permitiam a boa secagem do produto. Os portos eram privilegiados pela proximidade dos pontos consumidores.

Apesar de hoje ser um termo generalizado para quem trabalha com o gado, o historiador Leonardo Rolim pontua que, no século XVIII, o vaqueiro tinha uma função mais gerencial na propriedade, ainda que participasse ativamente da lida com o rebanho.

A atividade, entretanto, encontraria uma série de empecilhos por conta das oscilações do clima, que tornaram inviável a produção em larga escala. Foi por conta da seca de 1777 que o charqueeiro José Pinto Martins emigrou de Aracati para o Rio Grande do Sul, onde instalou uma oficina de carnes na freguesia de São Francisco de Paula (hoje Pelotas). A concorrência com o produto do Sul contribuiu para o declínio da charqueada, dando lugar ao ciclo do algodão.

MAIS INFORMAÇÕES :
Documentário "Charqueadas: ensaio à história das rotas e fábricas de carnes do Ceará"
Direção: Roberto Bomfim

Karoline Viana
Repórter

FONTE:
Site: www.icoenoticia.com

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