domingo, 29 de maio de 2011

"Criatividade é o novo petróleo" (por Priscila Fernandes)



O século 21 iniciou tendo que lidar com modelos econômicos, políticos e filosóficos em processo de falência. Por isso mesmo, vivemos um período em que conceitos como inovação e diferencial se transformaram em palavras de ordem. A criatividade foi alçada ao posto de novo petróleo, combustível valioso para alimentar as próximas gerações. No entanto, é preciso lembrar que, ao contrário do petróleo, . Estamos diante de uma matéria-prima que depende unicamente do desenvolvimento humano e este só acontece com investimento em cultura e educação. Esse foi um dos temas tratados pela Conferência Internacional de Cidades Inovadoras – CICI2011, que aconteceu na semana passada (17 a 20 de maio), em Curitiba, com a intenção de “estimular a transformação de ambientes urbanos em espaços propícios à inovação, à criatividade e à criação de empresas e negócios sustentáveis por meio de um conjunto de ações e soluções”.
O conceito de economia criativa parece responder às necessidades de uma nova ordem mundial, calcada no desenvolvimento sustentável e na criatividade, colocando o foco de atuação na capacidade de criação das pessoas, a partir de vetores como cultura e tecnologia. Aplicada em alguns países com resultados palpáveis, a economia criativa chama a atenção do mundo e provoca reflexões em áreas diversas.

Não é mais possível, por exemplo, pensar a cidade como espaço profícuo de convivência e criação, sem iluminá-la com o conceito de cidade criativa. Segundo o português Jorge Cerveira Pinto, diretor da Agência Inova, que palestrou na CICI2011, existem desafios e paradigmas envolvidos na construção das cidades criativas. “A abordagem sobre as cidades criativas, desenvolvida por Richard Florida, se refere à importância da aposta numa segunda geração de políticas públicas ligadas à criatividade e à inovação urbana, numa aposta que visa a atração e a fixação de talentos, a capacidade de desenvolver investigação e produtos tecnológicos (universidades e empresas inovadoras), apoiada numa atitude tolerante, que valorize a diversidade social e cultural. A aplicação desta abordagem à realidade das cidades propõe que estas se constituam como espaços vibrantes, em particular pela qualidade dos espaços urbanos, pela dinâmica artística e cultural, pela aposta no desenvolvimento tecnológico e pela diversidade de negócios ligados à fileira cultural, tecnológica e urbana”, disse Pinto.

Os caminhos para que uma cidade conquiste a plenitude são inúmeros e vêm sendo experimentados em todo o mundo, misturando disciplinas diversas que vão da Cultura e da Arquitetura ao Branding. Para o professor António Câmara, vencedor do Prêmio Pessoa de 2006, as cidades precisam conjugar três fatores: diferenciação, experimentação e estratégias colaborativas. Nesse sentido, Jorge Cerveira Pinto faz referência a quatro cidades: “Barcelona, que usou os Jogos Olímpicos de 1992 para se tornar uma cidade moderna e criativa; Roterdã, que requalificou o Westgate Quarter com espaços dedicados à cultura e ao lazer, como forma de revitalizar uma zona degradada da cidade; Lisboa, que aproveitou a Expo 98 para promover a qualidade de vida urbana e a competitividade do território; e Riga, que vai lançar vários projetos de índole cultural como âncora de um mega projeto urbano e, por essa via, cimentar a cidade como capital cultural e econômica do Báltico”.

Para Pinto, o design é um importante conector entre cidade e cultura. Sobre o assunto, ele cita o fenômeno dos Fab Labs. Adotado em Portugal como modelo para democratizar o acesso à inovação, os Fab Labs são pequenas oficinas, instrumentalizadas com aparatos digitais e abertas ao público. “Os Fab Labs têm se destacado como um meio de promover a economia criativa. Pequenas oficinas nas quais qualquer pessoa pode desenvolver gratuitamente os seus projetos. Nelas encontram-se máquinas de impressão, corte, prototipagem, modelação 3D, além de outras que estão a serviço da imaginação e da criatividade de cada um. Servem também para encontros, trocas de informação e sinergia, fundamentais para o avanço do conhecimento individual ou de grupos. A interação é, alias, a base da evolução”, explicou.

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