terça-feira, 22 de março de 2011

Icoenses que fazem história - Ana Batista Nogueira


O PASSADO

Vae-se passando para mim a vida…
Ah! como longe estão os roseos dias!
Cheios de luz e cheios de harmonias
Da minha bella infância estremecida.

Como está longe a doce fé querida
Que tinha então! A tantas alegrias
Sucederam-se duvidas sombrias
Que me torturam a alma entristecida.

Os meus sonhos... perdi-os nos caminhos
Rudes da vida, e o coração agora
Tem a tristeza dos desertos ninhos.

Tenho vontade de parar... A aurora
Já não reluz, e nem os passarinhos
Modulam cantos que eu ouvi outr’ora!

Da revista: "O Lyrio", Soneto da capa do 1º nº, novembro/1902, Recife/PE




Nada melhor para se falar de uma artista do que trazer o seu trabalho. E o título da poesia acima, "O Passado", tem tudo a ver com esta icoense que trazemos agora. Ela fez das letras sua história e sua vida, sua bandeira do abolicionismo.

Ana Batista Nogueira nasceu em Icó no dia 22 de outubro de 1870, filha de João Nogueira Rabelo e Teresa de Albuquerque Nogueira Rabelo. Jornalista, colaborou para diversos periódicos, dentre os quais “Libertador”, “Constituição”, “República”, “O Pão”, “O Domingo”, “O Repórter”, “Evolução” (Fortaleza), “O Rio Negro” (Manaus), “A Província do Pará” (Belém), “Gazeta de Noticias” (Rio de Janeiro), “Cidade de Campinas” (Campinas) e “O Lírio” (Recife).

ABOLICIONISMO EM ICÓ - A família Batista era das mais envolvidas com o movimento abolicionista em Icó. Ana Batista ficara órfã aos dois anos e é criada por uma escrava. Filha caçula, deve sua educação à segunda mulher de seu pai, Joaquina. Ela lhe ensinou a falar francês, a ler e traduzir os grandes poetas da época.

Sua família empresta prestígio e força ao movimento abolicionista. Tanto empenho leva Icó a ser uma das primeiras cidades brasileiras a libertar os escravos. Esse fato levou a princesa Isabel a enviar um cartão de agradecimento à família de Ana.

Aprendendo cedo ao falar francês e, aos nove anos, já lera a obra “L´histoire dês girondins”. Era solicitada como intérprete para os poucos viajantes estrangeiros que chegavam pelas paragens de Icó.

Com apenas 10 anos de idade, recitando versos da sua autoria, participou dos festejos pela libertação dos escravos em Icó, promovidos pela Sociedade Libertadora Cearense, da qual o pai era ativo militante.

MUDANÇAS - Ao casar-se com Sabino Batista, o Sátiro Alegrete da Padaria Espiritual, movimento nascido em um famoso quiosque da Praça do Ferreira, ficou viúva com menos de 30 anos, grávida e com dois filhos pequenos. Para sobreviver, teve de recorrer à ajuda de amigos e passou a lecionar em um colégio de Fortaleza.

Radicou-se em Recife, onde lecionou em escolas particulares e estudou à noite na Escola Propagadora da Instrução, diplomando-se Professora em 1903.

Ingressou no magistério público em 1912, aposentando-se em 1929. Trabalhou com Amélia Beviláqua na revista “O Lírio” e traduziu versos de notáveis poetas franceses, sendo a primeira , por unanimidade, no concurso promovido por “A República”, em 1899, para a melhor tradução de um poema de François Coppée.

OBRAS - Não há confirmação a respeito da publicação do livro Carmes (1915), reunindo parte de sua obra poética, temas seus que descendentes reuniram em volume intitulado Versos (Edigraf, Rio de Janeiro, 1964) com alguns dos seus poemas e a crônica História de um Anjo, escrita no álbum de sua irmã.

Uma de suas poesias, a que se intitula Ao amanhecer, foi posta em musica por Alberto Nepumuceno. Seu nome é citado no livro "Escritoras brasileiras do século dezenove". A jornalista, escritora e amante das letras faleceu no Rio de Janeiro.


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* Com informações do Portal da História do Ceará (Livro Diccionario Bio-bibliographico Cearense, de Barão de Studart), blog da Ana Maria Lopes, Blocos Online (poesia), blog da Família Batista Cavalcante.


FONTE:
http://www.icoenoticia.com

Um comentário:

  1. Onde encontrar dados sobre Antonio Fiuza Pequeno nascido em Icó em 1875 e que foi Secretário de Fazenda do Ceará e presidente da FACIC?

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